Não costumo me alongar muito nos comentários que faço aqui no blog, mas este Poder Sem Limites levanta questões que permitem discussões mais prolongadas, seja pelo lado ousado de sua técnica ou pela própria essência do seu roteiro.
Poder sem Limites traz ares de novidade para os muito explorados filmes de super-heróis e também para os filmes que tem um jeitão de documentário, em que a pessoa que está por trás da câmera faz parte da história, como A Bruxa de Blair, Cloverfield e [REC].
Aqui temos três jovens americanos típicos. Andrew é magrelo, sofre bullying na escola, convive com o pai alcoólatra que jamais hesita em desferir uma bofetada em sua orelha, por menor que seja o motivo, além de ter que enfrentar a tristeza da perda iminente da mãe doente. Matt é primo de Andrew, curte filosofia e tenta uma aproximação com Andrew. Steve é o cara popular, descolado, bom em esportes e em se fazer admirado pelos outros.
Andrew compra uma câmera e resolve sair filmando qualquer coisa que lhe interesse, atitude que deixa o garoto ainda mais propenso a ser sacaneado pelos valentões da escola. Os três vão a uma festa rave, evento um tanto atípico na rotina de Andrew. Nos arredores do local eles descobrem uma passagem no chão que os deixa frente a frente com um cristal estranho e barulhento. Após entrarem em contato com esse objeto misterioso eles percebem que podem controlar objetos com a força do pensamento. Sim, estamos falando de um cristal luminoso que confere o poder da telecinésia para quem o toca.
Piração demais? Pode ser, mas de vez em quando é justamente isso que faz o cinema ser algo tão fascinante: oferecer uma oportunidade escaparmos das leis que regem nosso universo.
Esse estilo de nos mostrar o ponto de vista do personagem funciona muito bem em Poder sem Limites, afinal logo no começo do filme já somos capazes de nos sentir dentro dos acontecimentos, de uma maneira parecida com Cloverfield, mas com uma filmagem menos nauseante. Isso é possível e explicado pelo próprio roteiro, já que o poder da telecinésia permite que Andrew posicione a câmera no ângulo que quiser e sem tremedeiras.
O que também nos aproxima da história é o fato dos personagens serem pessoas reais e tomarem decisões verossímeis, pelo menos para a idade deles. Pensem, um adolescente que acaba de descobrir que possui poderes vai combater o crime ou se divertir? As cenas que mostram os três garotos usando a telecinésia para assustar crianças no mercado, levantar a saia de garotas e mudar um carro de posição para deixar a dona perdida são hilárias. Nesse momento de diversão com os poderes não há nada mais interessante do que voar. Essa sequência pode não ser tecnicamente um primor, mas consegue nos deixar nas nuvens com eles, sentindo toda a adrenalina da situação, algo que só é possível pela filmagem semi-documental.
Mas nem tudo são flores. É evidente que nem todos estão preparados para serem super-heróis. A angústia e a raiva interna de Andrew aos poucos vai ganhando contornos extremamente perigosos. A atuação de Dane DeHaan é um dos motivos do filme ser tão bom. Em menos de 85 minutos somos capazes de sentir pena dele, de rir de suas brincadeiras e de temer pelas suas atitudes.
Não há mais o que falar sem entregar spoilers. Só adianto que a medida que o desfecho se aproxima a ação aumenta em proporções épicas. Uma falha de Poder Sem Limites é a falta de explicações plausíveis para que todos os personagens estejam carregando uma câmera na hora certa, no lugar certo, como a garota que resolve filmar tudo por ter um blog. Sorte que a maioria das filmagens são feitas por Andrew e aí sim temos uma maneira original e orgânica de explicar as gravações.
Eis um filme original, cheio de energia e força. Apesar do final abrir espaço para continuações, existe uma resolução que fecha muito bem quase todas as arestas. O diretor Josh Trank certamente ganhou muita moral com este filme. Parece que ele estará por trás de O Quarteto Fantástico e tudo indica que ele vai realizar mais um grande trabalho.
[ 8/10 ]
Acabei de assistir a este filme. Enxerguei muitos paralelos entre Andrew e Peter Parker, por incrível que pareça. Ambos jovens tímidos, reclusos e que recebem esses super poderes especiais. A diferença é que Andrew não tinha alguém mais velho que ele respeitasse que o dissesse que grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Se ele se entrega ao seu lado obscuro, acho que tem muito em decorrência do ambiente familiar desintegrado em que ele vivia.
Acho interessante a abordagem narrativa partir de um olhar adolescente sobre esta fase que é delicada pra todo mundo, mas fico triste com a forma clichê com a qual o filme desenvolve o roteiro. Não gostei do final, achei que as coisas ficaram mal explicadas e tudo terminou de uma forma muito simples. Mas, no geral, o filme prende a atenção da gente.
Interessante, não vi o filme ainda, mas cada vez me convenço mais de que vale a pena.
bjs
UAU, sua postagem me enche de esperança de ver algo diferente, Bruno! E gostei da comparação da Kamila.
Bruno, ainda não tive a oportunidade de ver, mas estou muito ansioso para assisti-lo e seu texto só aguçou minha ansiedade. Novidade é o que o mundo cinéfilo necessita. Abraço!
Já ouvi tantos comentários positivos para esse filme que fiquei muito interessado em assistir! O seu texto também me motivou =)
Gostei do filme, mas acho que o estilo de filmagem prejudica mais que ajuda. São tantas justificativas mirabolantes em algumas cenas que minha fê cênica foi se esvaindo hehehehe