É muito diferente assistir a La Dolce Vita antes dos 20 anos e depois dos 30. Quando vi o filme pela primeira vez não aproveitei tanto como achei que iria. Desta vez, a experiência foi muito melhor. Inclusive, passo a considerar este o meu preferido de Federico Fellini até o momento.

Marcello Rubini é um colunista social que vive suas noites atrás de mulheres e de histórias. O mundo dele é a Roma da alta classe e da boemia. É uma cidade que está superando muito bem as agruras do período pós-guerra. Marcello normalmente conta com a companhia de Paparazzo, um jornalista fotográfico. Esse nome soa familiar, não é? Pois é. La Dolce Vita popularizou o termo paparazzo graças a esse personagem e outros como ele, todos sedentos por registrar cada passo das celebridades, tal qual urubus em busca de comida.

A cultura das celebridades é retratada e criticada por sua futilidade. Por que tamanho interesse em saber da vida dos outros? Como explicar o enorme fascínio que uma atriz estrangeira exerce? É impressionante como todos ficam hipnotizados em volta dela para realizar suas vontades e conseguir alguns cliques. O fato é que havia e ainda há um mercado consumidor muito forte deste tipo de notícia. Mas o mais marcante aqui é mesmo a busca de Marcello por uma resposta para sua existência. Em meio a noites regadas a bebidas e mulheres, ele reflete e se preocupa com o caminho que está seguindo. Ele parece encontrar uma saída ao ver como um amigo leva a vida. O que ele não esperava é a decisão que este amigo toma.

Embalado por uma trilha sonora soberba de Nino Rota e uma fotografia que nos convida a admirar cada canto de uma das mais belas cidades do mundo, La Dolce Vita é para ser visto e sentido. Nos deixar levar pelas longas e inesquecíveis sequências é o melhor caminho para aproveitar um dos melhores trabalhos de Federico Fellini. Quando conseguimos entender as aflições de Marcello o filme ganha em profundidade.

Talvez La Dolce Vita não seja a melhor opção para se iniciar no cinema de Fellini, até mesmo porque o cineasta faz algumas referências a própria filmografia. Mas nada impede de você corajosamente encarar essas fascinantes 3 horas de puro cinema. Se a recompensa não vier agora, certamente virá em uma próxima sessão.

Nota: 10

Título Original:  La Dolce Vita
Ano: 1960
Direção: Federico Fellini
Roteiro: Federico Fellini, Ennio Flaiano, Tullio Pinelli, Brunello Rondi
Elenco: Marcello Mastroianni, Anita Ekberg, Anouk Aimée, Alain Cuny