Um ano após o bombástico Imploding de Mirage, o The Killers ousa ao percorrer um caminho inusitado dentro de sua sólida discografia. Pressure Machine é uma experiência intimista, doce, melancólica e absolutamente memorável.
Devido a maldita pandemia do Covid-19 que ainda nos assola, Brandon Flowers passou um tempo na pacata cidade de Nephi, Utah onde viveu boa parte da juventude.
Ao se reconectar com o local se motivou para contar várias histórias daquele povo. Mas são histórias que podem soar familiares a muitos. Pressure Machine e seus temas são universais. E com a ajuda de uma sonoridade mais calma e agridoce somos fisgados por ele.
Como não podia deixar de ser, Flowers bebe na fonte de Bruce Springsteen. Mas pensem em um The Boss de Nebraska e Darkness on the Edge of Town. Pressure Machine não oferece muitas músicas para serem cantadas em estádios lotados a plenos pulmões. Ele é um álbum para ser calmamente degustado e sentido.
Tudo começa com West Hills, uma música que nos leva para uma outra dimensão. Há qualquer coisa de sublime na forma como os arranjos foram trabalhados e como Flowers nos convida para fazer parte da experiência. Que introdução!
Quiet Town se inicia de forma dolorosa ao relatar um trágico acidente, mas com uma pegada vibrante um tanto country rock e com a ajuda de uma gaita se transforma em algo até que animado.
Runaway Horses (com Phoebe Bridges), Terrible Thing e Desperate Things vão para o lado contemplativo e sentimental, sem serem chatas.
In the Car Outside é o momento mais The Killers do álbum e talvez seja a que melhor vai funcionar em um show.
Outro destaque é a música título com sua batidinha anos 80, um falsete invejável de Flowers e um violino que arrepia no final.
Ao longo das 11 músicas somos apresentados a um garoto piromaníaco, a jovens atropelados por um trem, a um policial que se apaixona por uma mulher que sofre violência doméstica, a um jovem homossexual que contempla o suicídio e mais.
Além disso, somos convidados a refletir sobre uma certa tristeza de envelhecer e como é importante poder acreditar que existe algo maior olhando por nós. É agridoce, sim, mas o tom é de esperança na maior parte.
Flowers nunca soou tão poético, confessional e profundo.
Com quase 20 anos de carreira vemos como ele e a banda estão evoluindo. Particularmente, gosto quando artistas tentam soar diferentes de vez em quando. O próprio The Killers arriscou um pouco disso em alguns momentos de Day & Age e Battle Born, mas não tanto como em Pressure Machine.
Talvez o fã mais fervoroso torça o nariz para o que foi apresentado. Talvez ele queira outra Mr. Brightside ou outra All These Things That I’ve Done. Minha sugestão? Basta ouvir o Hot Fuss.
Por ora, aproveite essa obra-prima chamada Pressure Machine, um álbum dos mais relevantes e necessários para o mundo em que vivemos.
Vai se tornar um clássico.
10/10

The Killers – Pressure Machine
1 West Hills
2 Quiet Town
3 Terrible Thing
4 Cody
5 Sleepwalker
6 Runaway Horses
7 In The Car Outside
8 In Another Life
9 Desperate Things
10 Pressure Machine
11 The Getting By
Favoritas: West Hills, Quiet Town, Pressure Machine
Menos favorita: The Getting By