Segundo Martin Scorsese, um filme de Kubrick vale por 10 de outros diretores. Quem sou eu para contradizer um mestre falando de outro mestre?

Aqui você poderá ler sobre aspectos da vida de Kubrick, além de minhas impressões sobre todos os filmes lançados por ele, inclusive os três documentários do início da carreira.

É um post para se ler com calma, a não ser que você tenha um tempinho livre.

Em breve, farei um post discutindo apenas 2001 – Uma Odisseia no Espaço, possivelmente o melhor filme já feito.

PEQUENA BIOGRAFIA
Filho de um médico, Stanley Kubrick nasceu em Nova York, em 26/07/1928. Nunca se destacou na escola. Não que ele fosse preguiçoso ou burro, mas ele simplesmente não se interessava pelas coisas que os alunos deveriam aprender. Para Kubrick, a escola deveria ensinar a resolver os problemas do dia a dia e não a decorar coisas em livros.

Durante o ensino médio queria se tornar um baterista de jazz e desenvolveu sua notória habilidade no jogo de xadrez. Aos 17, foi contratado como fotógrafo da revista Look. Por 4 anos trabalhou na revista e isso o ajudou a aprender cada vez mais sobre técnicas de fotografia. A capacidade de Kubrick de capturar cenas marcantes pode ser encontrada em todos os seus filmes. Certamente, essa experiência como fotógrafo profissional foi essencial para ele se tornar uma referência em termos visuais e estéticos.

Enquanto isso, fez três documentários, além dos filmes Medo e Desejo e A Morte Passou Perto. Kubrick fez quase tudo sozinho, tanto em termos financeiros como em termos técnicos.

Apesar desses filmes não serem aquela maravilha toda, foram bons o suficiente para chamar a atenção do produtor James Harris. Juntos, produziram O Grande Golpe, excelente filme que fez o nome de Kubrick ganhar reconhecimento em Hollywood. Ele só tinha 28 anos na época.

Novamente com James Harris, produziu o maravilhoso Glória Feita de Sangue, filme que elevou Kubrick ao grupo dos bons diretores do cinema, com apenas 29 anos.

Em Spartacus ele não pôde ter um domínio artístico completo da obra por questões de contrato, mas deste filme em diante ele decidiu cuidar de maneira obsessiva de todos os aspectos dos seus filmes. Com o tempo, foi se transformando em um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos.

Kubrick era um cara recluso, mas sempre demonstrou muito amor e carinho com a família e amigos próximos. Alguns jornalistas tentaram criar uma imagem de Kubrick que não correspondia a verdade, como se ele fosse um tipo de monstro. Graças aos depoimentos de suas filhas e de documentários como Stanley Kubrick: A Life in Pictures, tivemos a chance de descobrir quem ele realmente era.

Nunca venceu o Oscar de melhor diretor, mas foi indicado para este prêmio em 4 oportunidades, com os filmes: Dr. Fantástico, 2001 – Uma Odisseia no Espaço, Laranja Mecânica e Barry Lyndon. Ganhou o Oscar de melhor efeitos especiais por 2001 – Uma Odisseia no Espaço.

Kubrick trabalhou muito no filme De Olhos Bem Fechados, talvez mais até do que deveria. Quatro dias após mostrar a edição final do filme para os familiares, Tom Cruise, Nicole Kidman e executivos da Warner Bross, ele morreu na cama, em consequência de um ataque cardíaco.

Ele está enterrado em Hertfordshire, Inglaterra, mas está vivo em cada frame de seus filmes e em cada discussão acerca deles.

ESTILO
Kubrick era extremamente meticuloso e exigia ter controle absoluto sobre seus filmes. Ele era um perfeccionista. Se entregava ao máximo na produção e esperava que os atores e os outros membros da equipe estivessem tão comprometidos e empenhados quanto ele.

A concepção de suas cenas acontecia após muito tempo de planejamento e estudos. Tudo deveria estar no lugar certo, na hora certa. Era muito detalhista, algo que pode ser visto em todos os filmes dele.

Kubrick criava sequências absolutamente belas em termos estéticos. Barry Lyndon talvez seja o maior exemplo de como ele fazia cada cena ter uma beleza autêntica, de encher os olhos.

Com o passar do tempo, desenvolveu um estilo próprio. Reconhecer um filme de Kubrick é fácil. Ele costumava investir em ótimas narrações em off e em sequências que acompanham um exército ou um grupo de pessoas em movimento, sempre em ângulos interessantes.

A frieza e distanciamento também não podem ser esquecidos. Uma das poucas cenas realmente emotivas do diretor está no final de Glória Feita de Sangue, quando uma alemã canta para um grupo de soldados cujos olhos ficam cada vez mais marejados.

Seus filmes proporcionam inúmeras discussões. O ápice foi com 2001 – Uma Odisseia no Espaço, filme que permite várias interpretações diferentes.

Ironias, humor, guerra, críticas sociais, ultra-violência, pedofilia, erotismo, duelos, batalhas, humor negro. Uma abrangência de temas invejável.

A cena final de Barry Lyndon mostra a frase: “Os personagens desse filme viveram na época do rei George. Ricos ou pobres, bonitos ou feios, todos são iguais agora”, demonstrando o fatalismo inerente a qualquer ser vivo, algo que Kubrick apontava muito bem.

Muitos falam de um ar pessimista do diretor, mas Joker, o personagem principal e narrador de Nascido para Matar fala: “Sim. Estamos em um mundo de merda. Mas estou vivo! E eu não tenho medo!” Para mim, isso é uma frase otimista, apesar de tudo.

FILMOGRAFIA COMPLETA

1 De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999)
2 Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, 1987)
3 O Iluminado (The Shining, 1980)
4 Barry Lyndon (Barry Lyndon, 1975)
5 Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971)
6 2001 – Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968)
7 Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964)
8 Lolita (Lolita, 1962)
9 Spartacus (Spartacus, 1960)
10 Glória Feita de Sangue (Paths of Glory, 1957)
11 O Grande Golpe (The Killing, 1956)
12 A Morte Passou Perto (Killer’s Kiss, 1955)
13 The Seafarers (documentário curta-metragem)
14 Medo e Desejo (Fear and Desire, 1953)
15 Day of the Fight (documentário curta-metragem)
16 Flying Padre (documentário curta-metragem)

LISTA PESSOAL DE PREFERÊNCIA e CRÍTICAS

1. 2001 – Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968)


Um milagre cinematográfico. Um dos melhores filmes já feitos. 2001 – Uma Odisseia no Espaço esbanja qualidade em termos técnicos e é extremamente ambicioso no que se propõe a discutir. A maravilhosa trilha sonora de Danúbio Azul embala o ballet tecnológico de Stanley Kubrick. É um filme sobre a evolução da raça humana e sobre os rumos que ela pode vir a tomar. Em pouco mais de duas horas, ele discute a vida extra-terrestre, a utilização de ferramentas para sobrevivência, a inteligência artificial e o maior tabu do homem: sua própria morte. Uma experiência transcendental, antropológica e filosófica que fascina do começo ao fim. Não existe uma interpretação definitiva. Todas podem e merecem ser discutidas. A única certeza que temos é de que nenhum outro diretor poderia fazer o que Kubrick fez aqui.
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2. Glória Feita de Sangue (Paths of Glory, 1957)


Considerado por muitos como o melhor filme sobre a Primeira Guerra Mundial. Claramente ele é anti-belicista, apesar de Kubrick, com ângulos e movimentos de câmera diferenciados, tornar uma ofensiva algo esteticamente belo. Kirk Douglas é um oficial que comanda um ataque ineficiente. O general decide punir a companhia de maneira exemplar ao escolher 3 soldados para serem fuzilados por covardia. O filme de guerra se transforma em um filme de tribunal, devido a corte marcial que é instalada. As duas partes são excelentes. Kubrick filma o oficial andando pelas trincheiras no ponto de vista dele, como se quisesse mostrar para nós como ele realmente se importava com os soldados que comandava. Isso também fica claro na maneira em que o oficial tenta defendê-los antes da execução. Durante o filme, há um diálogo em que soldados discutem  sobre qual a maneira menos pior de morrer. Um pouquinho do bom e velho humor negro. Glória Feita de Sangue contém a cena mais emotiva de toda a carreira de Kubrick. Ela está no desfecho, e mostra uma alemã cantando para vários soldados franceses que choram até não poderem mais. Um sinal de que a arte e o lirismo conseguem atingir qualquer um, em qualquer momento.
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3. Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964)


Dr. Strangelove é um dos filmes mais engraçados que já assisti. Os diálogos são cheios de ironia e presença de espírito. As atuações são muito eficientes. George C. Scott, Sterling Hayden e, principalmente, Peter Selles (que interpreta três personagens diferentes) estão ótimos em cada cena em que aparecem. O tema é a guerra-fria. A loucura que atinge um oficial pode levar a um desastre nuclear de proporções mundiais. Ver o general Jack Ripper falando sobre como os russos estão estragando os preciosos fluidos corporais dos americanos com água fluoretada é hilário. É uma sátira política que sobreviveu ao tempo.  Kubrick brincou com o medo da época de maneira perigosa. Como esquecer a cena em que o piloto de avião monta uma bomba atômica lançada do avião ou as improvisações extremamente engraçadas de Peter Selles? Uma obra-prima.
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4. Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971)


Como informa o narrador, Laranja Mecânica mostra um pouco da boa e velha ultraviolência. Alex e seus amigos saem pelas ruas de Londres tocando o terror. Eles tomam uma bebida chamada Moloko Plus, que é um tipo de leite em que certas drogas são adicionadas e serve como combústivel para o desejo de violência sem explicação desses rapazes. A frieza da obra é impressionante, assim como o controle absoluto demonstrado por Stanley Kubrick. É um filme forte, corajoso e intenso. A trilha sonora clássica é mais um detalhe que deixa tudo mais marcante. Algumas cenas se tornaram ícones do cinema, como aquela em que Alex canta Singing in the Rain e desfere chutes na boca do estômago de um senhor de idade. A discussão que o filme proporciona é em relação ao tratamento feito em Alex. É justo retirar a liberdade de escolha de uma pessoa para que ela não mais faça o mal? Malcom McDowell está ótimo no papel e eu também destaco o ator Michael Bates, que interpreta um guardinha extremamente empenhado, dono de um bigodinho à la Hitler. Clássico.
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5. O Grande Golpe (The Killing, 1956)


Dono de uma estrutura narrativa criativa, que foge da linearilidade e apresenta diferentes pontos de vista para a mesma situação, O Grande Golpe é um excelente filme de crime. Johnny Clay conta com a ajuda de alguns companheiros para assaltar o jóquei da cidade em um dia de muitas apostas. A preparação dos bandidos para o dia é incrível, assim como o ato em si. O tom de urgência imposto por Kubrick em algumas cenas é quase insuportável, como aquela em que vemos Johnny apontando uma arma para um funcionário, enquanto este coloca a grana na sacola. Parece que logo ele vai ser descoberto e o roubo chegará ao fim. Os movimentos de câmera de Kubrick são muito originais, demonstrando uma notória evolução em relação ao trabalho anterior (A Morte Passou Perto). Foi com este filme que ele finalmente fez o seu nome ficar conhecido em Hollywood. Interessante ressaltar que Quentin Tarantino provavelmente bebeu desta fonte ao idealizar Cães de Aluguel.
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6. Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, 1987)


Nascido Para Matar é dividido em duas partes. Na primeira, o ator R. Lee Ermey oferece uma metralhadora de xingamentos e piadas ao discursar para os futuros fuzileiros navais. O sargento Hartman deve prepará-los para a guerra, algo que faz com muita intensidade. As cenas do treinamento passam voando. É digno de pena ver o soldado Pyle sofrendo nas mãos do sargento Hartman e dos outros soldados. Na segunda parte, o cenário é a guerra do Vietnã propriamente dita. Assim como na primeira parte, acompanhamos o soldado Joker (Matthew Modine). O personagem se torna um mistério tanto para os outros soldados, como para o público. Ele utiliza um símbolo da paz, ao mesmo tempo em que pinta no capacete a frase: Nascido Para Matar. Ele explica para um oficial que isso se deve a dualidade do homem, mas nunca o compreendemos realmente. Ao contrário do que muitos pensam, não considero este um filme anti-belicista. Kubrick simplesmente mostra a guerra como ela é. Claro, o final extremamente forte é um sinal de como a guerra é ruim, mas como diz Joker: Sim, estamos em um mundo de merda. Mas estou vivo e eu não tenho medo!
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7. O Iluminado (The Shining, 1980)

Esta adaptação do livro de Stephen King é um terror psicológico de qualidade. Jack aceita o emprego de zelador do hotel Overlook durante o inverno. Vai passar 5 meses lá com a mulher e o filho e ninguém mais por perto. O clima de suspense é muito forte, pois além do isolamento em que eles se encontram, aos poucos percebemos que o Overlook não é um simples hotel. A atmosfera do local é muito carregada, afetando o já perturbado Jack cada vez mais. Jack Nicholson compõe o personagem de um jeito até exagerado, mas eficiente. Kubrick nos dá alguns sustos, mas o que realmente dá medo é a sensação de pavor e estranhamento que o local proporciona. Algumas cenas surreais e outras muito gráficas, como o sangue descendo pelo elevador, são muito assustadores. Alguns detalhes colaboram ainda mais para o sucesso do filme, como o lado sobrenatural do filho de Jack e um assassinato ocorrido no hotel há anos.
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8. De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999)


Último trabalho do diretor e um dos mais controversos. É uma história que possuis várias metáforas e que permite várias interpretações. O médico Bill Halford, interpretado por Tom Cruise, tem uma conversa tensa com a esposa: após puxar um fuminho, Alice (Nicole Kidman) revela para Bill que durante uma viagem da família ela desejou intensamente um outro homem, estando disposta a largar tudo para passar uma noite que fosse com ele. Com isso na cabeça, Bill sai por Nova York em uma jornada erótica, em que ele se depara com mulheres da noite e até mesmo com uma orgia. A trilha sonora na sequência da festa cria um clima de intensidade total. O resultado dessa viagem se mostra perigoso. Bill se sente vigiado e ameaçado por pessoas que ele nem imagina quem são. O que motiva Bill a tomar as atitudes que toma? Ciúmes? Vingança? E sobre o que realmente é o filme? Um sonho? Uma alegoria psicológica? Um suspense direto e sem enrolações? Difícil chegar a uma conclusão, mas pensar sobre as possibilidades já é mais do que satisfatório.
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9. Barry Lyndon (Barry Lyndon, 1975)


Inspirado em pinturas do período, Barry Lyndon se passa no século XVIII. É considerado por muitos como a obra mais bonita de Kubrick, algo que devo concordar. A composição de cada cena foi feita de maneira milimétrica. Kubrick se preocupava até em como os atores andariam em cena. O diretor buscou a perfeição em termos técnicos e conseguiu. Figurinos originais, fotografia poética e uma direção de arte fabulosa fazem da experiência um deleite. Como pontos fortes temos as cenas filmadas à luz de velas, além das sequências mostrando duelos e movimentação de exércitos. Mas, e quem foi Barry Lyndon? Longe de ser um herói que merecesse reconhecimento, ele foi apenas um homem que se utilizou da esperteza para tentar crescer socialmente. O fato do assunto principal do filme ser um personagem desse tipo já é irônico, mas as ironias não param por aí. A narração em off garante nosso riso com o canto de boca quando diz coisas do tipo: Somente um grande grupo de historiadores e filósofos para explicar os motivos que levaram a esta guerra ou Esta batalha não está nos livros de História, mas foi memorável o suficiente para quem participou dela. Barry Lyndon é recheado de cenas realmente tristes, mas elas demonstram que Kubrick não tinha simpatia alguma em relação ao personagem principal.
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10. Lolita (Lolita, 1962)


A polêmica tem torno de Lolita foi muito grande e não era para menos. Lolita ainda era uma garota de escola e já despertava um enorme desejo em Humbert, que deveria ter seus 50 e poucos anos. A mãe de Lolita se oferece a Humbert de várias maneiras. Vê-lo rejeitando a mulher garante algumas risadas, principalmente devido ao sarcasmo do homem. O fato é que Lolita enlouquece Humbert aos poucos e este vai ficando cada vez mais ciumento e obsessivo. Depende da gente decidir se ela era uma garota inocente ou se queria apenas brincar com os sentimentos e desejos de Humbert. Outro ponto interessante, é que a história começa com um assassinato e passa a ser contada em flasback, o que nos deixa curiosos para saber como as coisas tomaram tal rumo. Kubrick se mostra corajoso e provocativo aqui, principalmente para a época em que o filme foi lançado.
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11. Spartacus (Spartacus, 1960)


Spartacus é um épico grandioso. Kubrick não teve o controle artístico que desejava, portanto boa parte das marcas registradas do diretor não estão presentes. De qualquer forma, Kubrick comanda este épico com muita segurança. As sequências de batalhas são lindas, fazendo lembrar Ran, de Kurosawa. São mais de 3 horas de duração e mesmo assim ele não é cansativo. O trabalho técnico nos faz sentir em Roma (e adjacências) e as ótimas atuações também ajudam nesse sentido. Peter Ustinov, Charles Laughton e Kirk Douglas estão excelentes aqui. O roteiro toma várias liberdades para contar a história de Spartacus, o escravo que se tornou gladiador e tentou enfrentar o poder romano. No geral, é um épico anti-belicista, violento (a cena do braço decepado é um exemplo) e que puxa um pouco para o lado sentimental, além de ser dono de um dos quotes mais famosos do cinema: I AM SPARTACUS!!!
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12. A Morte Passou Perto (Killer’s Kiss, 1955)


Apesar de não ser um grande trabalho do diretor, A Morte Passou Perto tem qualidades que merecem destaque. A história é sobre um boxeador que nunca deixou de ser apenas uma promessa, mas que agora tem uma chance de se destacar. Ele conhece uma vizinha e se apaixona, mas o relacionamento se mostra mais perigoso do que ele imaginava. Os pontos fortes estão na parte técnica. Kubrick executa movimentos de câmera bem interessantes, além de trabalhar com a iluminação de maneira exemplar. A narração em off ajuda a criar um clima de mistério e suspense, além de um ar noir. As atuações não são muito boas, mas era o que o baixo orçamento poderia comprar. O clímax é construído com habilidade, com uma ótima cena de perseguição em cima de telhados e uma briga cujas armas são machados e manequins. Pena que as atuações e a história de amor não convencem.
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13. Medo e Desejo (Fear and Desire, 1953)

Nem o mais cego fã de Kubrick pode negar que este filme é ruim. As falhas estão em todos os lugares: no roteiro, na trilha sonora e, principalmente, nas atuações. Você simplesmente não consegue acreditar nos personagens, interpretados de maneira muito teatral. Quatro soldados se encontram isolados e perdidos em meio às linhas inimigas, algo que os afeta psicologicamente. Trata-se de uma alegoria de como a guerra prejudica o bom senso do homem. Apesar de curto, Medo e Desejo é entediante e não mostra o estilo do diretor. Em termos técnicos, a edição é bem realizada, fazendo lembrar os filmes de Eisenstein. Mas é só. O próprio Kubrick decidiu tirar o filme de circulação, por considerá-lo amador demais. Até entendo a atitude, mas acho que, pelo interesse histórico, cópias melhores poderiam estar disponíveis.
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DOCUMENTÁRIOS

The Seafarers: Primeiro trabalho a cores do diretor. Fala sobre as vantagens e benefícios de fazer parte da Seafarers International Union, uma organização para marinheiros, proprietários de barcos e afins. É meio chatinho, mas vale pela curiosidade de ver Kubrick trabalhando cedo. Ele consegue imprimir uma fluidez interessante ao trabalho, mas recomendo só para quem tem muito interesse no diretor.

Day of the Fight
: Ótimo documentário que retrata a situação dos boxeadores da época e que escolhe aleatoriamente um deles para mostrar como são os momentos que antecedem uma luta,  como os preparativos, alimentação e a mudança psicológica do boxeador para enfrentar o oponente. Se for escolher um dos três documentários de Kubrick para assistir, que este seja a sua escolha, gostando de boxe (o que ajuda) ou não.

Flying Padre
: O primeiro trabalho de Kubrick. Mostra um padre que usa um avião para ajudar os necessitados a resolverem os seus problemas. São apenas nove minutos de duração.

CURIOSIDADES
– Paul Thomas Anderson visitou os sets de De Olhos Bem Fechados e lá mesmo fez o convite para Tom Cruise participar de Magnólia.
– Raramente dava entrevistas.
– Era fã de futebol americano.
– Gostava de Seinfeld e Os Simpsons.
– De acordo com o amigo Michael Herr, Kubrick assistiu O Poderoso Chefão mais de 10 vezes e dizia que este era, provavelmente, o melhor filme já feito.
– Considerava Elia Kazan o melhor diretor americano.
– Era amante de gatos, chegando a ter 16 ao mesmo tempo.

QUOTES DE STANLEY KUBRICK
– Nunca aprendi coisa alguma na escola e só li um livro por prazer pela primeira vez aos 19 anos.
– Se pode ser escrito, ou pensado, pode ser filmado.
– Pode soar ridículo, mas a melhor coisa que jovens cineastas podem fazer é pegar uma câmera e um pouco de filme e fazer um filme de qualquer tipo.
– A destruição deste planeta não teria significado em uma escala cósmica.
– Tenho uma esposa, três crianças, três cachorros e sete gatos. Não sou um Franz Kafka, sentado sozinho e sofrendo.
– Para fazer um filme inteiramente sozinho, algo que fiz inicialmente, talvez você não precise saber muito sobre outras coisas, mas você precisa saber sobre fotografia.
– Nem sempre sei o que quero, mas eu sei o que eu não quero.
– Existem poucos diretores que você deveria ver tudo o que eles fizeram. Eu colocaria Fellini, Bergman e David Lean no topo da minha primeira lista e Truffaut no topo do próximo nível.


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PROJETO INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Kubrick  queria esperar a hora certa para iniciar a produção do filme. Ele sabia que não ia demorar muito para que a tecnologia disponível fosse tão avançada quanto o roteiro precisava que ela fosse. Kubrick discutia muito sobre o filme com Spielberg, e chegou um momento em que Kubrick decidiu passar o projeto de Inteligência Artificial para as mãos de Spielberg, alegando que ele próprio não tinha o tipo de sensibilidade exigida pela história.

PROJETO NAPOLEÃO
Kubrick leu centenas de livros sobre o tema e disse que pretendia fazer o melhor filme já feito. David Hemmings possivelmente seria Napoleão e Audrey Hepburn era a escolha favorita para ser Josefina. O projeto era extremamente ambicioso. As locações seriam na França e Reino Unido e cerca de 50 mil soldados seriam contratados como figurantes para as cenas de batalha. O filme não saiu do papel graças ao enorme custo que ele demandaria, além da decepção em termos de bilheteria do filme Waterloo (sobre o mesmo tema). Em 1987 ele disse que ainda não havia desistido totalmente da ideia, pois acreditava que nenhum filme realmente bom sobre o personagem havia sido feito. Alguém dúvida que ele faria o filme definitivo sobre Napoleão? Quem tiver interesse pode ler o roteiro (first draft) clicando AQUI.

PROJETO ARYAN PAPERS
Aryan Papers era um projeto de Kubrick em que ele recriaria o Holocausto. A história seria sobre uma mulher e seu sobrinho tentando se esconder durante o período. O diretor cogitava escalar Uma Thurman ou Julia Roberts para o papel da tia e Joseph Mazello para ser o garoto. Kubrick desistiu da ideia por dois motivos: em 1993 Spielberg lançou A Lista de Schindler, com a mesma temática e além disso, ele considerava o tema doloroso e depressivo demais para que o cinema conseguisse captar com precisão sua essência.

FONTES PESQUISADAS
IMDb
Kubrick.com
Rotten Tomatoes
Wikipedia
Kubrick Multimedia Film Guide

COMENTÁRIO FINAL
Um dos melhores diretores do todos os tempos. Fez poucos filmes, mas todos são infinitos em seus significados e qualidades.

/bruno knott